Jep Ramos
Artista independente, compositor, musicólogo, pianista e cantor de origem catalã.
O seu campo de experimentação parte do Lied. O canto íntimo de inspiração romântica onde poesia, canto e piano se fusionam numa amalgama inseparável é o guia do seu estilo pessoal.
Os seus trabalhos anteriores "Nadal no Mundo" e "De Hollywood à Galiza" exploraram os mundos das melodias natalícias de diferentes culturas e as músicas dos grandes filmes desde uma perspectiva diferente.
"O faiante no piano" é o novo desafio onde Jep Ramos recupera a prática de acompanhar ao piano o Fado, estilo de canção portuguesa com raízes populares.
"O faiante no piano" nasce como um projeto musicológico, culminado por uma digressão de concertos e a gravação de um CD.
O piano entrou no mundo no fado por volta de 1870 e foi assaz utilizado como instrumento acompanhante para esta música durante cerca de cinquenta anos nas casas de fado e tavernas típicas dos bairros de Lisboa. Os motivos para o seu progressivo abandono são diversos: sociais, económicos, artísticos, políticos, ...
Para ouvir as canções de "O faiante no piano" clique no seguinte enlace:
Infelizmente, o fado ao piano teve muito pouca presença
nos meios fonográficos, devido a que a sua prática já ficara desusada
no momento em que estes chegaram a Portugal.
Quase toda a pesquisa
neste sentido teve de ser feita nas etapas pré-discográficas do fado,
mediante testemunhas escritas em livros, jornais, revistas, literatura
de cordel, iconografia e partituras.
A maior dificuldade foi o facto de que os músicos da época geralmente criavam os seus acompanhamentos a improvisar. Não havendo, portanto, partituras que transcrevam exaustivamente estes usos, fez-se necessária uma reconstrução indireta a partir de arranjos para piano de sucessos da época (nomeadamente teatro de revista), cancioneiros e obras eruditas que buscavam inspiração no fado (como as Rapsódias Portuguesas de Victor Hussla).
A intenção do autor não foi apenas arqueológica, mas de procura de novas chaves que permitam interpretar o fado em base à tradição e sem prejuízo para outras formas de acompanhar.
O acompanhamento com guitarra portuguesa e guitarra clássica, sempre preferido no meio fadista, também foi inspiração para a criação dos acompanhamentos de "O faiante no piano". Os acordes de guitarra, corridinhos, contracantos e linhas rítmicas de baixo são utilizados para evocar, por meio da polifonia permitida pelo piano, o ambiente típico fadista.
O músico mergulha nas profundezas da música popular lisboeta desse século do romantismo, nos seus poetas e músicos, e resgata estilos e melodias esquecidas pelo passar do tempo.
Não ignora, porém, algúns dos contributos ao fado durante o século XX, especialmente o que diz respeito à busca da clareza do texto mediante um estilar onde a música adquire elasticidade rítmica e melódica, enquanto o canto estabelece um diálogo eloquente com o acompanhamento instrumental, neste caso do piano.
A aposta pelo piano como instrumento acompanhante do fado também procura ilustrar a crescente presença que o rei dos instrumentos teve durante cerca de cincuenta anos, nas décadas de 1870 até a de 1920. Jep Ramos trata de reconquistar o valor perdido pelo piano no mundo do fado, sem pretender qualquer inovação, mas pelo contrário, procurar a sonoridade antiga da música popular lisboeta acompanhada por este instrumento.