Fado do marinheiro

20.11.2016

O fado mais antigo.

Não há que confundir este fado com outro de 1927 com o mesmo título com música de Raul Ferrão e texto de Irmãos Unidos.

Para Tinop:

É indubitável que o fado só posteriormente a 1840 apareceu nas ruas de Lisboa. Até então o único fado que existia, o fado do marinheiro, cantava-se à proa das embarcações, onde andava de mistura com as cantigas de levantar ferro, a canção do degredado e outras cantilenas undivagas. O Fado do marinheiro foi o que serviu de modelo aos primeiros fados que se tocaram e cantaram em terra.

Não temos, porém, elementos seguros para determinar a génese evolutiva dessa melodia até ao momento em que, transportada do mar para terra, se popularizou, primeiro, e se aristocratizou, depois, subindo das vielas e das tabernas às salas alcatifadas (Tinop, 1901, p. 26-27).

Pimentel (1904) extrai a partitura do fascículo 68 do Cancioneiro de músicas populares portuguesas, e declara que "Este fado é o mais antigo de que diz ter tido conhecimento o velho guitarrista Ambrósio Fernandes Maia".

A presença de saltos superiores à oitava e de intervalos de três tons (ambas as circunstâncias antinaturais para a voz humana) faz supor que a partitura é um arranjo instrumental, presumivelmente para guitarra, ainda que também se presta para tocar com violino. Esse mesmo facto mais a ausência de um texto associado faz pensar na possibilidade de que esta obra fosse pensada como dança, a qual coisa resolveria o enigma tão querido pelos investigadores acerca das músicas que acompanhavam a dança do fado.

Há duas danças associadas ao fado: a dança do fado e o bater o fado.

Dança do fado

Acerca da dança do fado, Tinop diz:

À volta de 1850, existiam bailarinos de fado e de fandango notabilíssimos. Estava nesse caso o Salvador Mexerico, (...) que bailava com uma rapidez telegráfica e uma desenvoltura estapafurdia. (...) Vinha gente de longe para o ver dançar o fado e o fandango entre doze ovos postos no chão dos quais passava sem quebrar um só. (...) Dançavam o fado seguindo nota a nota, nas suas evoluções trepidantes, a musica ondulosa como a vida ondulosa das vagas; bailavam o fandango com o virtuosismo sudorífico de um marujo britânico, sapateando o solo inglês (Tinop, 1901, p. 252-254).

Faz entender que o dançar o fado devia ser uma espécie de sapateado. Os sapateados tinham influência de danças de origem céltico executadas com sapatos de madeira e adquiriram grande importância cénica desde meados do século XIX.

Alfredo Roque Gameiro (1864-1935): A dança do fandango.

O Dicionário da Porto Editora (2016), define o fandango português da seguinte maneira:

Dança popular portuguesa típica do Ribatejo, sem canto, sapateada e em compasso ternário, executada por dois dançarinos ao som da concertina.

O facto de Tinop (1901) relacionar o fandango com o dançar o fado faz entender que a única diferença entre eles era o compasso: o fado é binário e o fandango ternário.

Bater o fado

Bater o fado é uma dança ou meneio particular, em que entram duas pessoas ou três: uma que apara (ou duas, às vezes) e que deve estar quieta e o mais firme possível, e outra que bate, dando regularmente às pancadas com a parte inferior das coxas nas coxas das pernas do que apara, e meneando-se com requebros obscenos (Tinop, 1901, p. 252).


Devia de ser, portanto esta uma dança de cortejo com caráter sensual altamente insinuante. Também devia de ser uma prova de resistência física para as pessoas que aparavam os golpes

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Ilustração de Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905) da dança de bater o fado.

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